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Crónica de fim de semana: DEI

  • pedroalbertoescada
  • 14 de dez. de 2024
  • 3 min de leitura

Os médicos internos de Otorrinolaringologia candidatos da lista "União e Juventude" à Comissão do Internato Médico da SPORL-CCP para o próximo triénio, questionaram os seus colegas internos da especialidade e jovens especialistas se, no seu ambiente profissional, já tinham assistido a comportamentos (incluindo comentários verbais), por parte de doentes, colegas ou outros profissionais, que expressassem alguma forma de exclusão ou discriminação.


62% dos inquiridos responderam que nunca.


Alguns dos inquiridos responderam que já tinham assistido a comportamentos desse tipo, numa percentagem importante só para o aspeto dos "traços de personalidade e comportamentos", e numa percentagem residual para aspetos como "idade ou geração"; "género ou expressão do género"; "raça, etnia ou religião"; "orientação sexual"; e "aparência".


Curiosamente, quando a questão colocada não foi a da discriminação e exclusão, mas sim a da pertença (à organização), a percentagem de médicos que responderam que já tinham experimentado sentimentos de não pertença subiu para 34%.


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Os exemplos apontados incluíam questões relacionadas com a gestão dos serviços, mas também razões relacionadas com a discriminações com base em orientações políticas e crenças religiosas, e exemplos de atitudes sexistas ou paternalistas dirigidas a médicas jovens por doentes e médicos especialistas do sexo oposto ("chamarem-me de "menina" ou pelo diminutivo do meu nome").


Vale a pena discutirmos, mesmo que de forma resumida (senão ninguém terá paciência para ler estas crónicas...), os aspetos do funcionamento e gestão das organizações e das sociedades que têm sido incluídos na expressão DEI, expressão que vale a pena fixar.


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DEI é a sigla para Diversidade, Equidade e Inclusão. Clarifiquemos os termos:


Diversidade descreve a multiplicidade de diferenças e variações dos seres humanos, inatas ou adquiridas, que podem servir para diferentes formas de exclusão e discriminação (nos parágrafos anteriores já vimos exemplos concretos destas diferenças e variações).


Equidade significa justiça na distribuição das oportunidades, mas difere de igualdade (a diferença é importante) porque, enquanto a igualdade implica oportunidades iguais para todos, sendo que as mesmas serão mais bem aproveitadas por aqueles com melhores condições ou maior mérito, a equidade implica uma preocupação de compensar com mais oportunidades aqueles que têm alguma desvantagem ou estão menos representados na sociedade.


Inclusão é o resultado desejado de uma cultura em todos os que pertencem a uma sociedade ou organização têm a sua voz e se sentem representados, mesmo os que são minoritários ou têm alguma forma de desvantagem.


Eu gosto em particular do conceito de "pertença" ("belonging") porque capta com mais sensibilidade o sentimento que todos podemos ter alguma vez de não nos sentirmos bem nas nossas organizações em algum momento ou período da nossa vida (eu, por exemplo, sinto-me particularmente desconfortável quando constato que algumas organizações ainda são permeadas por interesses menos tranparentes, destinados a valorizar preferencialmente pessoas que não têm desvantagem merecedora de uma maior oportunidade).


Concordo com o conceito de equidade, uma equidade que ajude as pessoas que têm alguma desvantagem ou subrepresentação efetiva e que necessitam dessa ajuda. Felizmente, muitas pessoas que podemos considerar como pertencentes a grupos minoritários, têm provado, entre nós, de ser capazes de vencer de forma clara pelos seus próprios méritos. Todos conhecemos exemplos.


Uma cultura inclusiva é importante, mas deve evitar salientar a diferença valorizando sempre o conjunto das características dos indivíduos, sob pena de os estigmatizar desnecessariamente.


Não gosto do tokenismo, que consite no recrutamento de pessoas menos representadas para dar a aparência de equidade e inclusão numa organização que verdadeiramente não é culturalmente diversa. É o equivalente ao greenwashing, prática em que determinadas empresas apresentam os seus produtos como sustentáveis e ambientalmente responsáveis, quando, na realidade, suas ações e produtos causam danos ao meio ambiente.


Atualmente, a DEI impõe-se não só por razões éticas e legais, mas igualmente porque melhora o desempenho das organizações. É um facto.


70% dos jovens médicos que responderam ao inquérito mencionado no início desta crónica assumem que nunca sentiram qualquer viés, na sua avaliação ou relacionamento com colegas, profissionais ou doentes, relativos às tais diferenças e variações muitas vezes causadoras de discriminação e exclusão.


É um bom presságio, augurando um futuro em que a nossa sociedade será efetivamente uma sociedade em que todos trão a sua voz, se sentiram representados, e terão um sentimento de pertença relativo à instituição onde irão desenvolver a sua atividade profissional.


Ainda assim, 15% dos inquiridos (médicas e médicos jovens) confessam alguma dificuldade no relacionamento com indivíduos de outras idades ou outras gerações.


Nós, os mais séniores, prometemos ter em consideração os sentimentos dos mais novos, e tentaremos fazer o "bridging the gap" geracional (mas isto já foi o tema de outra crónica !) e estar convosco mantendo um sentimento de pertença... Faremos isso!


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