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Entrevista com o candidato a Presidente da Comissão de Audiologia

  • pedroalbertoescada
  • 24 de out. de 2024
  • 5 min de leitura

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Entrevistámos o Professor Doutor Luís Roque Reis, a propósito da sua aceitação como candidato a Presidente da nova Comissão Científica de Audiologia da lista “União e Juventude”, para o mandato de 2025-2028 da SPORL-CCP. O Professor Doutor Luís Reis é atualmente o Diretor do Departamento Cirúrgico da Unidade Local de Saúde de Lisboa Ocidental (Hospital de Egas Moniz).


Luís, porquê a Audiologia?

R:  O meu interesse pela Audiologia vem desde o internato da especialidade, quando completei o único Mestrado em Audiologia (1998-2002) realizado até hoje em Portugal e em que obtive a graduação de Mestre em Audiologia. Este mestrado foi uma colaboração internacional pioneira entre a Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa (atual Nova Medical School) e a Universidade do Kansas, nos EUA. O coordenador do mestrado foi o Professor Rui Penha, antigo Diretor do Serviço de Otorrinolaringologia do Hospital de Egas Moniz. Foi uma formação muito exigente, com 2 anos letivos e mais 2 anos de tese, nem todos os cerca de duas dezenas de inscritos o completaram. O título da minha tese foi “Estudo Multifatorial com Audiometria de Altas Frequências”.

Com esta formação, passei a considerar a Audiologia um dos núcleos centrais da nossa especialidade, essencial para compreender a fisiopatologia, orientar o raciocínio clínico, fundamentar o planeamento terapêutico e a reabilitação, e para fazer investigação, entre muitos outros aspetos. Aceitei também este desafio do Professor Pedro Escada para ajudar a que os mais novos possam também fazer esse percurso de valorização e capacitação na Audiologia. Quero fazer parte dessa transformação!


Quais as diferenças entre a Audiologia dessa data (1998) e a dos tempos atuais?

Naquela altura havia um interesse maior dos otorrinolaringologistas pela audiologia, até porque dependíamos muito mais dela para os diagnósticos. Os internos tinham, no dia a dia, de saber descrever aos seus tutores o timpanograma incluindo na descrição a morfologia, a máxima admitância, a largura, a pressão e o volume equivalente do canal auditivo externo! Para estudarmos os doentes tínhamos que saber calcular e representar graficamente o teste de Metz e avaliar a fadiga auditiva. Durante o curso de mestrado tivemos que realizar audiogramas incluindo o tão difícil mascaramento, de saber o que é um DP-GRAM, e de compreender porque é que nos potenciais evocados auditivos do tronco cerebral são necessárias centenas ou milhares de estimulações para que as ondas se formem.


Luís, recordas-te de colegas que tenham completado o Mestrado em Audiologia?

Naturalmente, mas vou só nomear dois: a Audiologista Margarida Serrano, atualmente Coordenadora do Curso de Licenciatura em Audiologia da Escola Superior da Tecnologia de Saúde de Coimbra, e o Professor Doutor Pedro Escada. Por alguma razão o Professor Pedro Escada teve um enorme sucesso como Coordenador de um Centro de Referência em Implantes Cocleares e está sempre a chamar a atenção aos médicos internos, nas suas apresentações, para a importância do audiograma vocal como um exame de realização obrigatória no diagnóstico audiológico.


Luís, que expetativas tens em relação à nova Comissão de audiologia?

Na verdade, como escrevemos no Manifesto Eleitoral, as comissões científicas estão previstas nos estatutos da Sociedade, mas as suas funções concretas não estão definidas. Muitas perspetivas estão assim em aberto, mas considero fundamental existir um plano de ação efetivo nesta área. Tenho a fortuna de contar com dois outros excelentes elementos para a Comissão, que são a Dra. Conceição Peixoto e a Dra. Susana Andrade. São da “Escola de Coimbra” que, como todos reconhecem, é uma escola fortíssima na Audiologia e na sua valorização nas competências dos médicos de Otorrinolaringologia. A Dra. Conceição Peixoto tem ainda colaborado com o Dr. Vítor Correia da Silva no Hospital CUF Porto, centro que também tem sido ímpar na valorização da Audiologia nos seus standards mais ambiciosos e exigentes.       

Em termos genéricos e em antecipação, a Comissão deverá reforçar o peso das competências audiológicas na Otorrinolaringologia, a colaboração multidisciplinar com os Audiologistas e irá promover a discussão e implementação das melhores práticas na área da Audiologia. Dará apoio à realização de eventos científicos com o patrocínio científico da SPORL-CCP, ajudará na divulgação de informações relevantes e estará disponível para participar na interlocução com entidades e instituições afins. Poderá ainda assumir um papel de órgão consultivo em questões relacionadas à saúde auditiva, buscando fomentar a educação e a consciencialização da sociedade sobre a importância da prevenção e tratamento das alterações auditivas.


Luís, recentemente publicámos um post neste blog em que assinalámos que a nossa lista é uma lista de empreendedores. Mas tu és um empreendedor-inventor, criaste e validaste um novo teste de acumetria instrumental com diapasões, o TOC. Mas não falas muito sobre isso. Podes explicar?

É verdade. Em primeiro lugar, devo referir que na minha prática clínica tenho sempre os diapasões no bolso da minha bata, utilizo-os sistematicamente, são de extrema utilidade na orientação diagnóstica imediata e muitas vezes também na validação dos resultados dos exames complementares de diagnóstico. Os testes clássicos de acumetria apenas permitem avaliar o tipo de surdez. O TOC vai mais além, pois permite avaliar o grau de perda auditiva nos casos de surdez de condução unilateral. Por exemplo, muitas vezes, na consulta ou no Serviço de Urgência, apareciam doentes com uma perfuração da membrana timpânica unilateral e em que era importante ter de imediato uma ideia da extensão da patologia, isto é, se a surdez era causada só pela perfuração da membrana timpânica ou se havia ainda, adicionalmente, uma descontinuidade da cadeia ossicular. Os testes clássicos com diapasões, os testes de Weber e de Rinne, apenas identificavam imediatamente e sem qualquer dúvida a surdez de condução do lado da perfuração. Mas não esclareciam mais do que isso

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Ora, sabendo que em termos genéricos a simples perfuração da membrana timpânica causa uma surdez de condução de grau ligeiro, mas a desarticulação da cadeia ossicular já causa uma surdez de grau moderado, tive então a ideia de, ocluindo o canal auditivo externo, criar “artificialmente”, no ouvido contralateral (o ouvido normal), uma surdez de condução de grau ligeiro. Dessa forma, porque quando há uma surdez de condução bilateral o teste de Weber lateraliza para o lado em que a perda de audição (o GAP) é maior, se eu aplicasse um diapasão na linha média da cabeça num doente com uma surdez unilateral por perfuração da membrana timpânica (por exemplo pós traumática) em que tivesse artificialmente ocluído o canal auditivo externo contralateral (o normal), só ocorreria lateralização para o lado da perfuração se esse ouvido tivesse uma surdez de condução de grau moderado, ou seja, se além da perfuração da membrana timpânica o doente tivesse ainda uma desarticulação da cadeia ossicular.

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Como é evidente, a exploração desta hipótese passou por uma série de investigações até à validação final da ideia, e os trabalhos que descrevem essas investigações foram publicados em diversas revistas internacionais com peer review. Batizámos o novo teste de acumetria instrumental de Teste de Oclusão Contralateral (TOC), em inglês Contralateral Occlusion Test (COT).


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É um teste muito útil e simples de realizar, basta usar um diapasão, é possível assumir que a utilização do diapasão de 512 Hz é a mais adequada para o TOC, e que a sua utilização pode permitir aos médicos, em ambiente de consulta e de forma rápida, a distinção entre uma perda auditiva ligeira e moderada.


Luís, de facto a invenção de um novo teste com diapasões que permite recolher no imediato, clinicamente, informações tão relevantes, é um facto notável a assinalar. Queres acrescentar mais alguma coisa?

Não, só realçar a grande disponibilidade e a enorme vontade da nossa equipa em contribuir para valorizar a Audiologia e as competências desta importante disciplina nos médicos otorrinolaringologistas portugueses.

 
 
 

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